Faz bem se sentir bem

Querido Diário Médico,

Hoje foi um daqueles dias que começam ensolarados. Eu sei que tinha ônibus lotado, correria e suor no meio das ruas cheias de carros pra não perder a hora, pula-pula por entre esgotos e lixos pra não se sujar, e corrida na rampa. Mas, o sol estava lá, brilhante e ameno, fazendo o dia brilhar um pouco mais.

Enfermaria 550. Enxurrada de perguntas e questionamentos ao professor de como seriam nossas próximas 16 semanas e quais as tarefas a serem executadas.
Trabalho em equipe, divisão, lógica, acordos.
Almoço junto, depois um docinho pra voltar à toda prova.
Tenho certeza de que seremos um ótimo grupo de Clínica Médica!

Enfim, chegada a hora de "conhecer" nossos pacientes. Conhecer no sentido da evolução da internação em curso, e de suas patologias. Por hora até dá pra conversar sobre alguns aspectos da vida pessoal, mas nossa abordagem é sempre focada na doença (uma pena). Raramente sobre saúde. Mas sempre que dá, falo sobre expectativas, sonhos, motivação, ideias próprias sobre a doença e a atual "norma" de vida. Acho que dá certo um pouco.

A enfermaria ficou um pouco mais movimentada com a presença de alunos de Semiologia de outra faculdade. Tão animada que achei melhor somente ler e analisar o prontuário das minhas pacientes. A conversa teve que ficar pra outro dia.

Apesar disso, a leitura cuidadosa do prontuário e o acompanhamento da progressão dos fatos foram bem valiosos. Alguns tópicos de estudo pra casa: DAC, HAS, DAOP, LES, Herpes, Esquistossomose...
Além do dia super agradável e produtivo, fortalecer minha auto-estima fez parte das conquistas.
Tudo isso faz a gente seguir em frente!

Motivada, essa é a palavra!
Carla Guedes

Internato - Premier Jour

Meu Querido Diário Médico,

Enfim, foi dada a largada. Dia 01, de muitos. 
Tô considerando o dia de hoje como o dia #1, mas segunda-feira foi a "abertura" Oficial, com direito a muitas figuras políticas (Diretores, Coordenadores, Professores), discursos e blablablá. Nada rolou de concreto, e a nossa mão-na-massa foi adiada para hoje, 21/08.

Aproveitei o recesso de terça-feira para fazer as unhas [agora eu sou INTERNA, bem. Unhas, cabelos, pele bonita e blusa social tem que fazer parte do figurino], fazer compras [porque quem mora sozinho, se acabar o papel higiênico não vai ter quem traga na hora] e ir ao curso de CTI no Copa D'Or com Kelizinha [que por sinal, foi muito muito bom, e aprendi mais sobre AVCs].

Hoje coloquei meu despertador pra despertar às 5:30h. Não queria chegar atrasada, só pra não perpetuar esse velho costume. Te contar, Diário, sinto falta do tempo do frio-na-barriga [eu sei, eu sei!! Não existe o hífen, mas eu gosto da estética deles]. Oui, frio na barriga. daquele que não me fazia dormir antes do primeiro dia de aula... Mas, a faculdade já não me traz mais esse tipo de encantos juvenis, uma pena.

Enfim: dormi cansada, e acordei também cansada. Resultado: enrolei pra sair da cama. Moral da história: resolvi dar um pulo dela às 6:45h, tomei aquele meu banho demorado, fiz minha limpeza de pele, tonificação, hidratação, filtro solar, basepóblush e esse monte de gueligueli que faz a gente se atrasar. Saí voando de casa às 7:35h, e cheguei às 8:05h em ponto na Enfermaria 550 do HFSE. 
Aleluia, a professora ainda não tinha chegado, e se atrasou um monte. Missão cumprida. Que se perpetue meus dias de pontualidade no Internato, amém.

Primeira atividade: Palestra sobre "A Ressonância Magnética do Fígado". Boa? Boazinha. Deu pra reforçar que eu preciso reestudar Radiologia, só pra não perder o costume, e ficar ligada.

Segunda atividade: conhecer os setores do HFSE. Eu já conhecia um pouquinho, por ter rodado na Dermato e na Infectologia do São Sebastião (que está dentro do HFSE). Foi bacana.

Terceira atividade: Round na Medicina Interna. Residentes gente fina, internos idem. Foi bem legal entender qual a dinâmica do setor. No fim fomos visitar uma senhora que descobriu uma série de metástases, e nem conseguia dormir de tanta dor. Ela chorou querendo voltar pra casa, e querendo ver o cachorrinho dela, um pinche esperto chamado Trovão. Tivemos que dar notícias não muito boas sobre o prognóstico dela à acompanhante, uma cunhada. Pelo menos saímos com a promessa de que ela não sentiria mais tanta dor, e fomos na sala de prescrições aumentar a Morfina...

Quarta atividade: Almoço!! Encarei um "aquilo" em frente ao Hospital. Tudo certo, tudo ok, tudo legal.

Quinta atividade: estava eu tomando sol num banquinho e preparando forças pra ir ao ambulatório acompanhar os residentes (mesmo tento sido dispensados), quando me recordo, por milagre e com a ajuda da minha agenda, que eu tinha um curso de Trauma Vascular dentro de meia hora ali no HFSE mesmo!! E valeu a pena ter ido. 4h de curso, nem um pouco cansativos, cheios de casos clínicos. Mais um lembrete: reestudar a anatomia de vasos e nervos.

Enfim, foi um dia proveitoso. Tô cansada, muito cansada. Queria ter forças de ler mais alguns capítulos do livro de Emergência, ou Semiologia, ou Radiologia... Mas acho que vou descansar, pra amanhã atender de pronto ao chamado do despertador (que acorda os vizinhos todos, menos eu!) hehe

Beijos,
Carla Guedes

Faz parte do meu show, faz parte do meu show...

Querido Diário Médico,

Te escrevo do alto do meu derradeiro dia pré-internato. Esse momento muito esperado, do qual nós da Medicina UFRJ-Macaé o abraçamos munidos de muitas esperanças. Mas, devo acreditar que é somente uma forma de escapar do presente almejar o futuro dessa forma, afinal, acho que estava munida das mesmas esperanças quando da transição Ciclo Básico/ Ciclo Clínico. 
Muitos processos deram errado pra gente ao longo dessa caminhada, (ou errado nem tanto, pois cá sobrevivemos e aprendemos). Enfim, estou aqui desejando o melhor pra essa nova etapa da minha formação. E agora sim, como espero, que sejam relatos mais quotidianos, e com menos desânimos.
Sim, desânimos. Pois foram os desânimos que me fizeram silenciar (por dentro, e para fora).
Como sempre, nas últimas semanas de conclusão desse meu semestre, fez parte do meu show ficar quase pendurada na matéria por falta, fazer provas tendo estudado o mínimo após dias e dias muito atarefados, e ter mais uma decepção amorosa daquelas AR-RA-SA-DO-RAS. Mas a gente segue, cabeça erguida, prometendo se fazer diferente, e abraçando o mundo com curso de francês, curso de CTI, curso de ECG, estágio na emergência, estágio na pediatria, almejando estágio no CTI e pesquisa em dermatologia em vista...

Simbora!
Carla Guedes

DIP-se

Querido Diário Médico,

Tá chegando ao fim esse semestre. Me dei conta disso hoje ao fazer o último Estudo de Caso (nº 12) da disciplina Doenças Infecto Parasitárias (mais conhecida amistosamente como DIP).
Semana que vem vamos ao último dos moicanos mesmo: o último Seminário (nº 12). E DIP ficará para sempre em nossas lembranças... (só que não!). 
Descobri que a DIP é uma das pedras fundamentais da Clínica. Cerca de 70% das demandas e queixas que chegam nos turnos dos meus estágios, tem a ver com DIP!
Posso segredar uma coisa? Só 4 coisas me conquistaram até aqui na Faculdade. Fim de Ciclo Clínico (ainda não é hora do Balanço Geral, mas farei uma pequena Parcial...), e algumas certezas começam a aparecer(oxalá!).
Pra você que ficou à espera desse grande dia, Diário, em que eu finalmente diria alguma coisa sobre carreira médica, aqui vão os galantes que me conquistaram:

1) Saúde Coletiva; 
2) Pediatria; 
3) Dermatologia; 
4) Infectologiaaaa!!

Sim, ela está no meio! Infectologia! Portanto, a palavra da vez é: DIP-se!

Ele não tem carinha de Parasita com essa espícula??

DIP-se. Sim, porque a DIP será para sempre frequente em nossas vidas e corações (na saúde, ou na Endocardite). E outra, porque sua prova se aproxima...
É claro, apesar de gostar, muitas vezes fico com cara de Teletubie na aula, como hoje no Caso de Enteroparasitas (confundi o método de Moraes com o método de Faust no Exame Parasitológico de Fezes... e troquei Enterobiose com Tricuríase). 
Mesmo com todo mico e nota baixa, DIP me conquistou. 
E olha que todo mundo dizia que era a matéria MAIS difícil... Fácil não é (senão não tinha tirado 5,8 na prova), mas não achei esse exagero de dificuldade que apregoavam por aí.

Bom dizer de coisa desafiadora, não é mesmo?! E de coisa que a gente gosta.

Indo pra Macaé City no busão do TSU,
Carla Guedes

Ei, tem alguém aí?!

Querido Diário Médico,

Tô viva. Esse é o primeiro desabafo. 2 anos inteirinhos sem te enviar missivas, Diário. Acho que te deixei às traças, à míngua, à mercê de cogitações sobre como estava indo meu dia-a-dia (cada vez mais médico, cada vez mais cheio de surpresas e aprendizados). Um pequeno resumo, Fast-Forward:

• Tirei em primeiro lugar na Transferência pro Fundão, chorei de emoção e tudo... Mas sacanearam minha nota, colocando abaixo do ponto de corte, não concederam revisão. Não fui transferida. Tive depressão;
• Fui ao Cobem 2011, foi bacana em BH (UFMG top 10), mas não apresentei trabalho;
• A casa caiu: tudo ruim lá no Campus macaé. Fizemos Greve, Manifestações, ocupamos a Reitoria, saí no jornal;
• No meio da esquizofrenia, terminei meu noivado (louca, louca, louca);
• Pra aumentar a esquizofrenia, comecei a namorar um louco (louco louco louco), que bagunçou minha vida, (com direito a doença e tudo). Foi tarde;
• Fim da greve: minha turma foi transferida pro Fundão (quem diria... como é a vida, não eh mesmo?!);
• Morei 2 meses na casa da minha tia, na Tijuca (Obrigada, Tia!);
• Morei 4 meses num conjugado em Copacabana (Um abraço e um beijo pra Dona Sebastiana!);
• Estou morando desde outubro do ano passado num Pensionato administrado por Freiras na Tijuca, num quartinho bem aconchegante, mas com restrição de visita e hora pra voltar (Um joinha pro seu Joaquim, pro seu Agamenon, pra moça Loira simpática da portaria, pra faz-tudo Evânia, pras moças da Tesouraria que eu dou bom dia mesmo com o aluguel atrasado, e pras Irmãs, que estão lá agora arrumando o salão pra recepcionar o pessoal da JMJ).
• Fui ao Cobem 2012 (USP, sua linda!). São Paulo é sanduíche de Mortadela e muito mais;
• Pra tanta loucura junta: psicóloga nela! (Um abraço pra Regina, que mesmo atrasando e me deixando na mão sempre, é uma ótima psicóloga)
• Clínica, Obstetrícia, Pediatria, Ginecologia, Ortopedia, Cirurgia, DIP... 3 períodos já!!
• Comecei meu primeiro estágio no IPPMG, na Emergência Pediátrica. Estou lá desde Novembro, e a Pediatria vem conquistando meu  coração;
• Fiz 4 meses de estágio em Obstetrícia, e agora acho que sei que não sei, mas sei que sei um pouquinho de obstetrícia (superei cirurgias após 3 desmaios, e fui até Cirurgiã Auxiliar!! Um abração pros Médicos Cristiano e Rafael!)
• Tirei o aparelho! Beth a Feia nunca mais;
• Entrei pra Liga de Trauma e Emergência (Salve, salve, RCP!);
• Cortei o cabelo, e estou adorando meu curtinho (tô mais parecida ainda com o desenho de plano de fundo do Blog... hehe);
• Passei na prova de estágio da Prefeitura de Macaé, e todo fim de semana são duas coelhadas com um cajado só: visito minha família, e estagio. Fiquei 1 mês no Hospital da Serra, e agora estou no Pronto Socorro Municipal;
• Mês que vem faço 25. É, tô velhenjuvenecendo. 
• Continuo namorando a mesma pessoa louca de antes;
• Mês que vem começa o Internato (numa sequencia enlouquecida: Clínica, ESF, Cirurgia, Ginecologia, Pediatria e Obstetrícia);
• Muitos sonhos, muitos planos, muitos ideais! E a vida vai em frente!

Pois eh, Diário... Aguarde os próximos capítulos. Se aqui não relatei nada do Ciclo Clínico (que o foi o período mais turbilhonamento sequencial da minha vida), espero aqui, Diário Médico, contar um pouco da minha vida de Interna. E dessa minha vida de ser humano que sou e estou a ser.

Muitos planos, muitos sonhos, muitos queres,

Carla Guedes