terça-feira, 12 de julho de 2011

Dia Sobrinha-Estudante: Punção Esternal

Querido Amigo Diário Médico,

Há tempo para estudar para a tão esperada transferência, mas também há tempo para um "pequeníssimo estágio". Entrando no clima de Saúde do Adulto, hoje fui assitir a um procedimento: Punção Esternal para Mielograma.
Fim de semana, num almoço em família, minha tia veio me relatar que as dores de cabeça que ela sentia frequentemente levaram-na a fazer dois check-ups bem detalhados. Num feito em março, a única coisa anômala foi a contagem de plaquetas, totalizando 700 x 109/L, bem maior que o padrão de 450 x 109/L. Acontece que do segundo exame, em junho, esse número subiu para 850 x 109/L. Isso é um pouquinho preocupanete, pois sabemos que um número alto de plaquetas está relacionado à riscos de formação de trombos. Além, é claro, associar ao rápido crescimento do valor em período de tempo tão curto.


Com isso, o hematologista a quem ela foi referenciada comentou dapossibilidade de Trobocitemia Essencial (TE), e que para confirmação e definição da conduta terapêutica era necessário uma coleta de material medular.Ok, isso é um passo para o pesadelo. Em épocas de House MD., quando se fala em punção medular, logo imaginamos aquela agulha imensa perfurando o ilíaco, e o paciente berrando de dor... Inclusive, em tempos de Google, ela tinha me contado que tinha lido tudo sobre a TE, e que sabia das possibilidades de colher o material: pela crista ilíaca ou pelo esterno. Nenhuma das duas me pareceu pouco dolorosa, mas com certeza a esternal devia ser menos traumática.


Um pouco de ciência e cultura:


"A TE é doença mieloproliferativa clonal originária da stem cell. Com o advento dos contadores automáticos, pacientes assintomáticos com trombocitose vêm se tornando um desafio freqüente. A trombocitose (> 450 x 109/L) ocorre em duas situações: a trombocitose reacional (TR) e a trombocitemia. A TR está relacionada ao aumento de interleucina-6, como resultado de doenças infecciosas e inflamatórias crônicas e neoplasias. Outras etiologias da TR são: anemia ferropriva, estados hemolíticos, síndromes mielodisplásicas (anemia refratária com excesso de blastos, síndrome do 5q- e esplenectomizados). A TE pode estar associada com outras doenças mieloproliferativas crônicas, como a leucemia mielóide crônica (LMC), a policitemia vera (PV) e a mielofibrose primária (MP). Na TE, os eventos trombóticos podem ocorrer em quase todo o sistema vascular, dando surgimento a uma grande variedade de alterações isquêmicas oculares, cardíacas, neurológicas e periféricas. As complicações mais freqüentes incluem isquemia digital, eritromelalgia, isquemia cérebro-vascular e coronariana, síndrome de Budd-Chiari e abortos espontâneos de repetição."


Ok, tia, quem mandou ter uma sobrinha estudante de Medicina?! hehe
É claro que me ofereci na hora para acompanhá-la. Motivos:
1) Ela estava visivelmente ansiosa (pra não dizer apreensiva). Nunca tinha tomado nenhum tipo de anestesia (só a da cadeira do dentista, que pra ela não contava. "Mas assim, numa parte do corpo?!")
2) Técnica, técnica, técnica... Em Saúde da Comunidade III era pra gente ter feito todo tipo de punção, venosa, lombar... Mas acontece que esse tipo de procedimento os professores não iam deixar que fizéssemos nos coleguinhas. Portanto, era minha primeira chance de acompanhar um "en vivo".


Sinceramente me fiz a pergunta sobre qual dos motivos me animava mais... Escrupulosidade zero. Mas com certeza fiz de tudo para mantê-la calma, e ter em mente de que acima de tudo, ela era minha Tia Querida, não uma cobaia de um ato médico.


Condutas processuais:
1) Pesquisar tudo no "Harrison Medicina Interna", e mandar mensagens pra ela contando que "para quem não tem fatores de risco cardivasculares, por vezes a terapia da TE se resume à um AAS e ver mais vezes o médico";
2) Fazer questão de chegar na hora... hehe (pra quem me conhece, isso foi uma ádua luta contra todos os fatores mundiais que conspiram aos meus atrasos);
3) Levá-la de carro, e perguntar como foi noite de sono, como foi a alimentação, se ela se sentia segura;
4) Me certificar de que eu não fazia barberagens no trânsito (isso também é difícil);
5) Ter conversas amenas na sala de espera (sobre cor da unha, depilação, sobre o tempo...) e explicar pra ela as coisas que ela tinha dúvidas: o que era megacariócito, coagulação, etc, etc.


Chamadas ao consultório e apresentada ao Dr. Glauber, fomos ao procedimento.

- Por favor, Enfermeira X., me passe a agulha 20.
- Não, Dr., só temos a 10...
"Tensão no ar"
- Ih, temos sim, achei aqui!

Depois dele bricar comigo, e dizer que por eu estar no 5º período já podia fazer o procedimento (ele nem é doido...), ele exlicou que faria uma punção esternal.

- No corpo do esterno ou na junção com o manúbrio?! (Sua Maluca!!! O que você tá perguntando?! O que tem medula é o espaço medular, claro que é o corpo!!)
- Não, vou colher no corpo... (É, no 5º período ainda tem muito o que saber).

A agulha da anestesia entrou como uma punhalada! A cara da minha tia era de terror. Lembrei das aulas de intramuscular, onde agulhas eram dardos flamejantes nos deltóides dos amiguinhos...
Passado o susto e o terror, ele começou a cutucar com a agulha punhal.
- Incomoda? Dói?
- [Minha tia com cara de "mas é claro, ô seu...] Sim, dá uma fisgadinha...

Finalmente advindo o efeito anestésico, foi a hora de encaixar outra seringa: a de aspiração.

- Agora você vai sentir uma opressão, como se estivesse puxando seu coração...

Tirando aquele líquido mais vermelho-amarronzado e a enfermeira preparado as lâminas, processo finish. Pedido de Mielograma na mão (que segundo o médico provavelmente vai ser enviado para Belo Horizonte), lá fomos nozes atrás de um laboratório. Depois de alguns recusarem, alegando que o plano não cobria esse tipo de exame, encontramos um e deixamos o material.

Dia emocinante, não é tia? Espero que você não possa passar por isso novamente.

E aprendizado médico do dia: tem que ser com força... ui!

Até a próxima,
Carla Guedes

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